Relatório Sobre a Estabilidade Financeira Mundial

Resumo: Capítulo 2 e Capítulo 3

outubro de 2017

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Sumário Executivo

Os riscos de curto prazo são menores

O sistema financeiro mundial continua a se fortalecer graças ao apoio extraordinário de políticas monetárias, ao aperfeiçoamento do quadro regulatório e à retomada cíclica do crescimento. A saúde dos bancos em muitas economias avançadas continua a melhorar; houve avanços na resolução de alguns bancos mais frágeis, e a maioria das instituições de importância sistêmica está ajustando seus modelos de negócios e recuperando a lucratividade. A retomada da atividade econômica mundial, discutida no World Economic Outlook (WEO) de outubro de 2017, aumentou a confiança do mercado e, em simultâneo, reduziu as ameaças de curto prazo para a estabilidade financeira.

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Capítulo 2: A dívida das famílias e a estabilidade financeira

Apesar de que, em geral, se acredite que o financiamento contribui para o crescimento econômico no longo prazo, estudos recentes revelam que os benefícios para o crescimento começam a declinar quando a alavancagem agregada é alta. Nas frequências dos ciclos econômicos, novos estudos empíricos — além da experiência recente da crise financeira global — mostram que a expansão do crédito ao setor privado, que inclui a dívida das famílias, pode aumentar a probabilidade de uma crise financeira e até levar a uma desaceleração do crescimento.

Mundialmente, as famílias continuaram a se endividar mais na última década. Este capítulo examina detidamente a relação entre dívida familiar, crescimento e estabilidade financeira em uma amostra de 80 economias avançadas e de mercados emergentes. Além da análise agregada no nível macro, o capítulo também se debruça sobre os dados no nível micro relativos aos empréstimos contraídos pelas famílias individualmente, com o intuito de lançar mais luz sobre como o endividamento das famílias afeta o crescimento e a estabilidade em termos agregados.

O capítulo constata que há um compromisso entre os benefícios de curto prazo para o crescimento decorrentes da elevação da dívida das famílias e seus custos para a estabilidade macroeconômica e financeira no médio prazo. No curto prazo, um aumento da relação entre a dívida das famílias e o PIB normalmente está associado a uma aceleração do crescimento econômico e a uma redução do desemprego, mas esses efeitos são revertidos no prazo de três a cinco anos. Além disso, um crescimento ainda mais elevado do endividamento das famílias está associado a uma maior probabilidade de crises bancárias. Esses efeitos adversos são mais fortes quando a dívida familiar é mais alta e, portanto, são mais pronunciados nas economias avançadas do que nas de mercados emergentes, onde a dívida das famílias e sua participação no mercado de crédito são menores.

No entanto, as características dos países e suas instituições podem mitigar os riscos associados à elevação da dívida das famílias. Mesmo nos países onde essa dívida é alta, o dilema entre crescimento e estabilidade pode ser atenuado consideravelmente por meio de uma combinação de instituições, regulamentação e políticas sólidas. Por exemplo, a melhoria da regulamentação e supervisão financeiras, a menor dependência do financiamento externo, a flexibilidade do câmbio e a menor desigualdade de renda suavizariam o impacto do aumento do endividamento das famílias sobre os riscos para o crescimento.

Em termos gerais, as autoridades devem ponderar cuidadosamente os benefícios e riscos do endividamento das famílias em diversos horizontes temporais e, ao mesmo tempo, tirar partido dos benefícios da inclusão e desenvolvimento financeiros.

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Capítulo 3: Condições financeiras e crescimento em risco

Mudanças nas condições do sistema financeiro podem transmitir sinais poderosos de riscos para a atividade econômica futura. Assim como no período que antecedeu a crise financeira mundial, as vulnerabilidades financeiras, entendidas como a medida em que impacto adverso dos choques na atividade econômica pode ser amplificado por fricções financeiras, costumam aumentar em condições de dinamismo econômico, quando há ampla disponibilidade de financiamento e os riscos aparentam estar sob controle. Se essas vulnerabilidades forem suficientemente elevadas, passam a implicar riscos significativos de deterioração da economia. Portanto, ao acompanhar a evolução das condições financeiras, as autoridades podem obter informações valiosas sobre os riscos para o crescimento no futuro e utilizá-las como base para tomar medidas preventivas e direcionadas.

Este capítulo desenvolve uma nova medida macroeconômica da estabilidade financeira ao vincular as condições financeiras com a distribuição de probabilidade do crescimento do PIB no futuro e aplicar essa medida a um conjunto das principais economias avançadas e de mercados emergentes.

A abordagem analítica desenvolvida neste capítulo pode ser um acréscimo importante ao conjunto de ferramentas para a supervisão macrofinanceira à disposição das autoridades. Este capítulo mostra que a evolução das condições financeiras altera a distribuição do crescimento do PIB no futuro. Embora o aumento dos spreads de risco, a elevação da volatilidade dos preços dos ativos e a redução do apetite por risco sejam importantes elementos preditivos de desacelerações macroeconômicas no curto prazo, o crescimento da alavancagem e a expansão do crédito oferecem um sinal mais significativo para o aumento dos riscos de deterioração do crescimento do PIB no médio prazo.

Assim, na conjuntura atual, os baixos custos de financiamento e a volatilidade dos mercados financeiros sustentam uma visão otimista dos riscos para a economia mundial no curto prazo. Contudo, o crescimento da alavancagem sinaliza os possíveis riscos mais à frente. Um cenário de rápida descompressão dos spreads e de aumento da volatilidade dos mercados financeiros poderia agravar consideravelmente as perspectivas de risco para o crescimento da economia mundial. Essas constatações sublinham a importância de que as autoridades intensifiquem a vigilância dos riscos para o crescimento durante períodos de condições financeiras benignas que possam constituir um terreno fértil para a acumulação de vulnerabilidades financeiras.

Uma análise retrospectiva e em tempo real da crise financeira mundial mostra que, em comparação com os modelos baseados apenas no desempenho recente do crescimento, os modelos de previsão ampliados com as condições financeiras teriam atribuído uma probabilidade consideravelmente maior à contração econômica que se seguiu.

As melhorias na capacidade de previsão de contrações agudas da economia, mesmo em horizontes temporais de curto prazo, podem ser importantes para a adoção oportuna de políticas monetárias e de gestão de crises. A capacidade de tirar proveito das informações de prazo mais longo sobre os preços dos ativos e agregados de crédito também pode ser útil na formulação de políticas para fazer face às vulnerabilidades financeiras à medida que surgirem. A riqueza de resultados obtidos em vários países sugere que existe espaço considerável para as autoridades continuarem a adaptar a abordagem ampla usada neste capítulo às condições nacionais específicas, especialmente para refletir as mudanças estruturais nos mercados financeiros e na economia real.