Discurso de abertura na conferência de imprensa sobre as Perspectivas Económicas Regionais para a África Subsariana

21 de outubro de 2021

Bom dia!

Permitam-me começar por agradecer a todos por se juntarem a nós hoje para o lançamento da edição de outubro das Perspetivas Económicas Regionais para a África Subsariana.

A pandemia mostrou-nos a natureza profundamente interligada do nosso planeta. Desafios mundiais – como acabar com a atual pandemia ou o enfrentamento das alterações climáticas – exigem soluções globais. O caminho para enfrentar estes dois grandes desafios à escala mundial passa diretamente pela África Subsariana.

Antes de passar às suas perguntas, gostaria de abordar a nossa mais recente avaliação das perspetivas económicas, desafios e políticas prioritárias imediatas. Mas antes de me debruçar sobre isso, gostaria de começar por...

… refletir sobre a forma como a região está a enfrentar a atual pandemia. 

A crise mundial de saúde revelou duas realidades diferentes. O que emergiu foram dois mundos: um na maioria das economias avançadas, onde a recuperação continua a um ritmo acelerado, impulsionada por uma farta oferta de vacinas. O outro em economias emergentes e em desenvolvimento vulneráveis, onde as diferenças no espaço para a formulação de políticas e a distribuição mais lenta de vacinas estão a retardar o progresso.

  • Desde o lançamento das Perspetivas Económicas Regionais de abril de 2021, a África Subsariana foi atingida por uma terceira vaga, agora envolvendo a variante delta, mais contagiosa, com taxas de infeção que muitas vezes triplicam ou quadruplicam os valores de janeiro. Essa vaga diminuiu ao longo do último mês, mas há poucas razões para acreditar que não haverá novas vagas daqui em diante.
  • Isto também se deve ao facto de os esforços de vacinação na África Subsariana terem sido mais lentos do que noutras regiões, devido sobretudo ao açambarcamento por parte das economias avançadas, às restrições à exportação por parte dos principais países fabricantes de vacinas e à procura de doses de reforço nas economias avançadas, que podem comprometer ainda mais a oferta.
  • Até agora, apenas cerca de 3% da população na África Subsariana foi totalmente vacinada – em flagrante contraste com as economias avançadas e muitos países de mercados emergentes onde o nível de imunização está próximo dos 60%.
  • Os confinamentos têm sido a única opção para conter o vírus na ausência de vacinações. Embora os mais recentes tenham sido menos rigorosos do que os das fases iniciais da pandemia, o seu impacto cumulativo na atividade económica e na confiança continua a ser significativo.

    Passando agora para as perspetivas económicas na África Subsariana

  • Estimamos que a economia da África Subsariana crescerá 3,7% em 2021 e 3,8 em 2022. A recuperação é apoiada por condições externas favoráveis no comércio e nos preços das matérias primas. Também beneficiou da melhoria das colheitas e do aumento da produção agrícola em vários países.
  • A recuperação vem na esteira da forte contração em 2020 e é certamente muito bem‑vinda. Mas ainda assim, é a mais lenta em relação a outras regiões.
  • Por exemplo, enquanto se prevê que as economias avançadas regressem ao seu desempenho pré-crise até 2023, a pandemia parece ter baixado definitivamente a trajetória do PIB real na África Subsariana e aponta para uma perda do produto real per capita de quase 5,5% em relação ao desempenho anterior à crise.
  • Esta divergência reflete dois fatores sobre a África Subsariana: a lenta distribuição das vacinas e as grandes diferenças no espaço para a formulação de políticas.

Nesse contexto, quero destacar três áreas que exigem uma ação concertada por parte dos decisores políticos nos países e, de facto, da comunidade internacional:

A primeira delas é a desigualdade. A pandemia lançou cerca de 30 milhões de pessoas de volta à pobreza extrema e agravou a desigualdade, não apenas entre os grupos de rendimento, mas também entre e dentro das regiões geográficas subnacionais. Além disso, o aumento expressivo dos preços dos alimentos (e combustíveis) que vemos agora deverá exacerbar essas condições. A queda dos rendimentos e a subida dos preços dos produtos alimentares são uma receita para acelerar a erosão dos ganhos passados em termos de redução da pobreza, melhores condições de saúde e maior segurança alimentar. As políticas devem estar altamente concentradas em vencer este desafio. Do contrário, será uma nova fonte de sofrimento para as pessoas e agravamento da insegurança alimentar.

Em segundo lugar, os decisores políticos da África Subsariana precisam de navegar um ambiente de políticas cada vez mais delicado e complexo. Num contexto de crescimento abaixo do esperado, as autoridades terão de buscar o equilíbrio entre três fontes de considerável pressão:

  • a necessidade premente de elevar os gastos para abordar a multiplicidade de carências sociais, humanas e de infraestruturas;
  • a capacidade limitada de endividamento face aos já elevados níveis de dívida pública na maioria dos casos e
  • a lentidão e a natureza politicamente delicada do processo de mobilizar mais receitas fiscais.

O êxito das autoridades em solucionar este trilema terá enormes consequências para o bem‑estar macroeconómico dos países e suas perspetivas de crescimento.

Em terceiro lugar, a divergência dos resultados em termos de saúde, pobreza e desempenho económico que estamos a ver mostra a importância fundamental da solidariedade e apoio internacionais.

  • Em relação à Covid-19, a ameaça de novas variantes torna evidente a necessidade de uma resposta global, com uma ênfase especial nas pessoas não vacinadas em África. O FMI propôs um plano para vacinar pelo menos 40% da população total de todos os países até ao final de 2021 e 70% até ao final do primeiro semestre de 2022. Esses objetivos são ambiciosos para a África Subsariana e irão exigir uma mudança acentuada de estratégia por parte das economias avançadas e dos países da região.
  • Em termos mais gerais, é necessário um volume significativo de financiamento externo em condições concessionais para limitar e futuramente eliminar as divergências nas trajetórias de recuperação entre a África Subsariana e o resto do mundo. Sem esse financiamento, as trajetórias de recuperação divergentes poderão tornar-se fissuras permanentes, comprometendo décadas de árduos progressos. No último ano, as organizações internacionais e os doadores atuaram de forma célere para prestar apoio à região. Contudo, são urgentes mais ações multilaterais, dadas as acrescidas necessidades financeiras da região. São também necessárias medidas para assegurar que os mecanismos disponíveis de reestruturação da dívida são ágeis e eficazes para que o ónus do ajustamento não recaia sobre os pobres e facilitar uma recuperação mais rápida.

Da sua parte, o FMI continua, mais do que nunca, empenhado em ajudar a África Subsariana a enfrentar o vasto leque de desafios à frente. O seu contributo mais recente foi por meio da alocação geral de DSE, que aumentou as reservas da região, aliviando parte do peso sobre as autoridades à medida que estas orientam a recuperação dos seus países. E há muito sendo feito neste momento para redirecionar os DSE dos países com posições externas fortes para países com fundamentos mais frágeis e assim ajudar a reforçar a resiliência da região.

O vasto potencial da África Subsariana permanece intacto. Nas próximas três décadas, a população mundial deverá crescer cerca de 2 mil milhões de pessoas, sendo que só a África Subsariana será responsável por metade desse aumento. Isto representa uma enorme oportunidade: um conjunto crescente de talento e criatividade humanos que terá um impacto notável na trajetória económica, social e política do nosso planeta. Precisamos dedicar mais atenção a esta oportunidade fenomenal.

Departamento de Comunicação do FMI
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