O crescimento econômico na África Subsaariana pode diminuir de forma permanente se as tensões geopolíticas aumentarem

1 de maio de 2023

Qianqian Zhang

A África Subsaariana é a região que mais tem a perder se o mundo se dividir em dois blocos comerciais isolados, centrados na China ou nos Estados Unidos e União Europeia. Nesse grave cenário, as economias subsaarianas poderiam sofrer um declínio permanente de até 4% do produto interno bruto real após 10 anos, de acordo com as nossas estimativas — perdas superiores às que muitos países enfrentaram durante a crise financeira mundial.

As alianças econômicas e comerciais com novos parceiros econômicos, sobretudo a China, beneficiaram a região, mas também tornaram os países que dependem da importação de energia e alimentos mais suscetíveis a choques mundiais, como rupturas decorrentes do aumento das restrições comerciais após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Se as tensões geopolíticas aumentassem, os países poderiam ser atingidos por preços de importação mais altos ou até mesmo perder o acesso aos principais mercados exportadores — cerca de metade do valor do comércio internacional da região poderia ser impactado.

A suspensão dos fluxos de capital entre os blocos comerciais devido a tensões geopolíticas poderia agravar as perdas. A região poderia perder cerca de US$ 10 bilhões em fluxos de investimento estrangeiro direto (IED) e assistência oficial ao desenvolvimento, o que representa cerca de meio por cento do PIB por ano (com base numa estimativa média para o período 2017-19). A redução do IED no longo prazo também poderia prejudicar a tão necessária transferência de tecnologia.

Para os países que buscam reestruturar suas dívidas, um aprofundamento da fragmentação geoeconômica também poderia piorar os problemas de coordenação entre os credores.

 

A região se sairia melhor se apenas os EUA/UE cortassem os laços com a Rússia e os países da África Subsaariana continuassem a negociar livremente. Nesse cenário, denominado “descolamento estratégico”, os fluxos comerciais seriam desviados para o resto do mundo, gerando oportunidades para novas parcerias e, possivelmente, impulsionando o comércio intrarregional. Como alguns países africanos são beneficiados pelo acesso a novos mercados exportadores e a importações mais baratas, o PIB da região como um todo não sofreria nenhuma perda. Os países exportadores de petróleo que fornecem energia para a Europa poderiam até sair ganhando.

 

Aumentar a resiliência

Para melhor administrar os choques, os países precisam aumentar a resiliência. Isso pode ser feito por meio do esforço atual para fortalecer a integração do comércio regional no âmbito da Zona de Comércio Livre Continental Africana, o que exigirá a redução das barreiras comerciais tarifárias e não tarifárias, o aumento da eficiência nas alfândegas, o melhor aproveitamento da digitalização e o fechamento das lacunas em termos de infraestruturas. O aprofundamento dos mercados financeiros nacionais também pode ampliar as fontes de financiamento e reduzir a volatilidade associada à dependência excessiva de fluxos de entrada de capital estrangeiro.

Para tirar partido das possíveis mudanças nos fluxos comerciais e de IED, os países da região podem buscar identificar e estimular os setores que poderiam beneficiar-se do desvio do comércio, por exemplo, no setor de energia. Os países exportadores de commodities da região poderiam assumir grande parte da participação da Rússia no mercado de energia europeu.

Além disso, os países também poderiam contar com as agências de promoção do comércio para ajudar a identificar possíveis oportunidades, desenvolver as habilidades e capacidades necessárias para exportar e, por fim, reorientar a produção para aproveitar os novos fluxos comerciais. A melhoria do ambiente de negócios com a redução das barreiras de entrada, regulatórias e tributárias, também pode ser útil.

Não se sabe ao certo os resultados precisos que a fragmentação e a polarização devem gerar nem se essas tendências vão se manter. Resta claro, porém, que as instituições multilaterais precisarão continuar a facilitar o diálogo entre as nações para promover a integração e a cooperação econômicas.

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Este artigo baseia-se na edição de outubro de 2023 de Perspectivas Econômicas Regionais: África Subsaariana. Os autores são Marijn A.Bolhuis, Hamza Mighri, Henry Rawlings, Ivanova Reyes e Qianqian Zhang.

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