Conselho de Administração do FMI conclui a consulta de 2022 ao abrigo do Artigo IV com a República Popular da China – Região Administrativa Especial de Macau

19 de abril de 2022

Washington, DC: O Conselho de Administração do Fundo Monetário Internacional (FMI) concluiu a consulta ao abrigo do Artigo IV [1] com a República Popular da China – Região Administrativa Especial (RAE) de Macau e considerou e aprovou a avaliação do corpo técnico sem uma reunião, por decurso de prazo.

A RAE de Macau foi severamente afetada pela crise da Covid-19, mas a forte resposta de políticas ajudou a estabilizar o emprego e o consumo, ao mesmo tempo que preservou a saúde e segurança da população. Após uma contração de 54% do PIB em 2020, a economia expandiu 18% em 2021 graças à recuperação parcial do setor do jogo. Os preços no consumidor mantiveram-se, em média, inalterados durante 2021 face a 2020, refletindo a fraca procura interna. Devido às receitas do turismo ainda relativamente baixas, calcula-se que o excedente de conta corrente em 2021 seja menos de metade do nível anterior à crise.

A recuperação da RAE de Macau deverá prosseguir. As projeções apontam para um crescimento de 15,5% em 2022 impulsionado pelo regresso gradual dos turistas estrangeiros e pela recuperação da procura interna. Estimulado pelo aumento do investimento associado à emissão de novas concessões de jogo e por uma maior integração com a Área da Grande Baía (BGA) de Guangdong‑Hong Kong-Macau, o crescimento deverá acelerar para 23% em 2023, antes de convergir gradualmente para o seu potencial de longo prazo de cerca de 3,5% no médio prazo. A inflação global deverá acelerar em 2022 e estabilizar em torno de 2,5% no médio prazo.

Na ausência de progressos rápidos no sentido da diversificação económica, o saldo de conta corrente deverá regressar aos níveis anteriores à pandemia quando as entradas de turistas na RAE de Macau regressarem aos níveis anteriores à pandemia. Embora um controlo da pandemia melhor do que o esperado e uma integração com a GBA mais rápida do que o estimado possam contribuir para um crescimento mais forte do que o atualmente previsto, uma nova intensificação da pandemia da Covid‑19, uma regulamentação mais rigorosa da indústria do jogo e um aumento da tensão no setor financeiro da RAE de Macau poderão abrandar o ritmo da recuperação. Devido à sua localização geográfica, a elevada exposição da RAE de Macau a choques relacionados com o clima suscita preocupações a longo prazo.

Avaliação do Conselho de Administração [2]

Ao concluir as discussões da consulta de 2022 ao abrigo do Artigo IV com a República Popular da China – Região Administrativa Especial (RAE) de Macau, os Administradores aprovaram a avaliação do corpo técnico, nos seguintes termos:

Apesar de uma forte resposta de políticas, a pandemia causou enormes prejuízos na economia da RAE de Macau, salientando a necessidade de diversificação económica. A resposta de políticas do Governo ajudou a estabilizar o emprego e o consumo, ao mesmo tempo que preservou a saúde e a segurança da população. Contudo, o colapso da atividade económica, principalmente em virtude da queda das exportações de serviços, tornou bastante evidente a excessiva dependência da RAE de Macau da indústria do jogo. A elevada exposição da RAE de Macau às catástrofes relacionadas com o clima soma-se aos desafios económicos de longo prazo. A estratégia de diversificação do Governo, se for bem implementada, poderá reduzir a vulnerabilidade da economia a choques.

A recuperação da RAE de Macau deverá prosseguir, mas vai levar tempo até que a economia recupere totalmente das perdas induzidas pela pandemia. O regresso gradual dos turistas estrangeiros e o reforço da procura interna irão apoiar a recuperação no curto prazo, enquanto o aumento do investimento, associado à emissão de novas concessões de jogo, e a maior integração com a GBA irão impulsionar o crescimento no médio prazo. No entanto, dada a gravidade das perdas económicas durante a pandemia, o PIB deverá superar o nível anterior à crise apenas em 2025. Na ausência de progressos rápidos no sentido da diversificação económica, o saldo de conta corrente deverá regressar aos níveis anteriores à pandemia quando os turistas retornarem à RAE de Macau.

Subsistem grandes riscos descendentes. Um ressurgimento da pandemia da Covid‑19 pode travar a recuperação da RAE de Macau no curto prazo e comprometer a viabilidade do setor do jogo no médio prazo. Subsiste alguma incerteza sobre as propostas de alteração à lei do jogo da RAE de Macau, que, conjuntamente com a recente interdição de marketing de serviços de jogo no continente, ensombra as perspetivas para o setor do jogo. Potenciais incumprimentos em grande escala no setor imobiliário da China continental e um súbito abrandamento do crescimento na China continental colocam riscos ao sistema económico e financeiro da RAE de Macau. O declínio da capacidade de serviço da dívida das famílias devido às perdas de rendimento induzidas pela pandemia e as pressões sobre as empresas não financeiras decorrentes de condições financeiras mundiais mais restritivas poderão afetar negativamente o sistema bancário. As alterações climáticas constituem uma preocupação a longo prazo para a economia.

Na avaliação preliminar do corpo técnico, a posição externa da RAE de Macau em 2021 foi substancialmente mais forte do que o previsto pelos fundamentos económicos de médio prazo e as políticas desejáveis. O persistente hiato entre o nível de investimento e poupança da RAE de Macau é, em parte, resultado de um elevado grau de poupanças por motivos de precaução e investimentos limitados.

É necessária uma combinação de políticas de curto prazo que se reforcem reciprocamente a fim de apoiar a recuperação. Uma reabertura segura da economia, sustentada por um maior aumento das taxas de vacinação e a criação de novos corredores de viagem, lançarão as bases para uma forte recuperação. O ajustamento da orientação de política orçamental de contracionista para neutra e a alteração da sua composição para apoiar a inclusão e o crescimento ajudariam à recuperação. Os bancos devem reforçar a monitorização dos mutuários, incluindo da China continental, e deve encorajar-se um provisionamento conservador para proteger contra uma potencial deterioração da qualidade dos ativos devido à pandemia e a repercussões negativas da China continental. Os quadros de insolvência e de resolução e reestruturação da dívida devem ser melhorados, incluindo mediante o recurso a soluções extrajudiciais especiais, para não sobrecarregar o sistema judiciário e apoiar o crescimento. A medida de gestão dos fluxos de capitais LTV baseada na residência e a medida macroprudencial devem ser progressivamente suprimidas. A implementação de uma política orçamental contracíclica e a manutenção de mercados de trabalho flexíveis, um setor bancário saudável e uma cobertura de reservas adequada irão garantir o sucesso contínuo do regime cambial.

Um pacote multifacetado de reformas estruturais é necessário para colmatar o défice em termos de competências e superar os obstáculos à diversificação económica. Para fazer avançar a agenda de diversificação do Governo será necessário investir no desenvolvimento de capacidades e em infraestruturas, incluindo infraestruturas digitais, aumentando a eficácia das instituições públicas e melhorando o ambiente empresarial. A integração com a GBA proporciona à RAE de Macau oportunidades para aceder a um maior conjunto de mão de obra qualificada e a algumas atividades económicas offshore . É importante equilibrar os esforços de promoção do desenvolvimento do setor financeiro com a necessidade de preservar a estabilidade e integridade financeiras mediante um maior reforço do quadro regulamentar e de supervisão. A cooperação entre diferentes agências governamentais responsáveis pela agenda de diversificação deve ser melhorada, a fim de aumentar a eficácia dos esforços de diversificação do Governo.

As medidas de adaptação climática devem ser reforçadas. Os investimentos públicos em áreas fulcrais das vulnerabilidades climáticas devem ser ampliados e os sistemas de alerta precoce para monitorizar e avaliar a exposição da RAE de Macau aos riscos das alterações climáticas devem ser aperfeiçoados. Uma melhor compreensão e gestão dos riscos financeiros decorrentes das alterações climáticas iria ajudar a proteger o sistema financeiro dos riscos relacionados com o clima.

Uma estratégia orçamental de médio prazo bem articulada é essencial para apoiar os esforços em matéria de diversificação económica e resiliência climática. O aumento da despesa em educação, cuidados de saúde e infraestruturas públicas resilientes às alterações climáticas no médio prazo irá apoiar agora a recuperação, ao mesmo tempo que elimina os estrangulamentos à diversificação e aumenta a resiliência da economia às alterações climáticas no futuro. Um quadro orçamental a médio/longo prazo credível assegura os instrumentos necessários para lidar efetivamente com os compromissos decorrentes de múltiplas exigências em matéria de política orçamental, o que seria difícil de alcançar no atual processo orçamental anual.




[1] Ao abrigo do Artigo IV do seu Convénio Constitutivo, o FMI mantém discussões bilaterais com os seus países membros, normalmente com uma periodicidade anual. Uma equipa de especialistas visita o país, recolhe informações de natureza económica e financeira e discute com as autoridades a evolução da economia e as políticas económicas do país. De regresso à sede do FMI, os especialistas elaboram um relatório que constitui a base para as discussões do Conselho de Administração.

[2] O Conselho de Administração toma decisões ao abrigo do procedimento por decurso do prazo quando concorda que uma proposta pode ser considerada sem convocar discussões formais.

Tabela 1. RAE de Macau: Indicadores Económicos e Financeiros Selecionados, 2017–27

2017

2018

2019

2020

2021

2022

2023

2024

2025

2026

2027

Est.

Projeções

(variação percentual anual, salvo indicação em contrário)

Contas nacionais

PIB real

10,0

6,5

-2,5

-54,0

18,0

15,5

23,3

18,6

9,8

5,1

3,5

Total da procura interna

-0,2

-1,7

-0,7

-10,1

3,0

5,8

3,3

3,9

4,0

4,0

4,9

Consumo

2,1

4,1

3,4

-7,2

4,6

6,0

2,5

2,5

2,8

2,9

3,2

Investimento

-4,1

-6,1

-18,4

-17,2

-1,4

5,3

5,7

8,0

7,1

7,1

9,2

Exportações líquidas 1/

10,0

6,2

-0,5

-49,0

15,8

10,0

20,7

16,1

7,6

2,9

0,9

Exportações

16,8

9,8

-2,2

-65,1

69,9

16,1

32,2

20,7

11,1

5,8

3,2

Importações

7,8

4,9

-4,1

-14,7

47,2

6,1

12,5

6,5

6,1

5,3

4,3

Formação bruta de capital fixo (em % do PIB)

19,8

16,7

13,8

25,9

23,0

21,6

18,5

16,7

16,2

16,5

17,3

Poupança nacional (em % do PIB)

50,3

50,2

47,9

40,7

36,6

25,0

33,2

39,0

42,5

43,5

59,4

Preços e emprego

Inflação global (média)

1,2

3,0

2,8

0,8

0,0

2,8

2,7

2,6

2,6

2,5

2,5

Termos de troca

0,2

-0,2

0,8

0,3

-0,4

-1,5

-0,2

-0,1

0,1

0,2

0,3

Preços da habitação

16,8

7,5

-0,8

-2,3

-47,7

Mediana do rendimento mensal da população empregada

0,0

6,7

6,3

-11,8

Taxa de desemprego (média anual)

2,0

1,8

1,7

2,6

3,0

2,6

1,8

1,8

1,8

1,7

1,7

(em percentagem do PIB, salvo indicação em contrário)

Contas orçamentais

Saldo das administrações públicas

13,3

13,3

14,4

-21,2

-16,6

-10,2

5,0

11,7

12,2

12,1

13,9

Saldo orçamental das administrações públicas

10,6

12,4

12,0

-21,2

-16,5

-9,9

4,4

9,7

10,2

10,1

10,9

Receitas

29,1

29,7

29,4

22,6

26,4

23,5

29,6

30,4

30,1

29,7

30,4

Despesas

18,5

17,4

17,4

43,7

42,9

33,4

25,1

20,8

19,9

19,7

19,5

Saldo dos fundos extraorçamentais

1,0

0,1

0,6

-2,8

-0,5

-0,2

-0,4

0,6

0,6

0,6

1,6

Saldo dos fundos da segurança social

1,7

0,8

1,7

2,9

0,4

0,0

0,9

1,4

1,4

1,4

1,4

Balança de pagamentos

Conta corrente

30,8

33,0

33,8

15,2

13,8

3,5

14,9

22,4

26,3

27,1

26,2

Bens

-21,1

-19,6

-19,1

-30,1

-36,6

-34,5

-30,1

-26,1

-24,7

-24,3

-24,1

Serviços

67,3

69,0

69,8

32,4

49,0

53,2

61,5

65,8

67,5

67,3

66,3

Rendimentos

-15,4

-16,4

-16,8

12,9

1,4

-15,2

-16,5

-17,3

-16,4

-16,0

-15,9

Conta financeira

27,5

23,6

18,3

18,6

6,0

8,1

12,7

20,6

22,9

25,0

26,0

IDE

1,5

-3,2

-9,4

34,5

14,1

5,8

0,8

4,1

4,5

5,2

6,1

Investimento de carteira

20,6

-8,0

28,3

23,7

23,9

23,4

22,7

22,0

21,4

21,0

20,5

Derivados financeiros

-0,6

-0,6

-1,1

-1,4

-1,4

-1,4

-1,3

-1,3

-1,3

-1,3

-1,3

Outros investimentos

6,1

35,4

0,5

-38,2

-30,7

-19,8

-9,5

-4,2

-1,8

0,1

0,8

Erros e omissões

-2,7

-9,9

-12,7

13,9

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

Ativos de reserva

0,4

-0,5

2,7

10,4

7,8

-4,6

2,2

1,8

3,5

2,1

0,2

Reservas cambiais (mil milhões de USD) 2/

20,2

20,3

22,2

25,1

26,7

Dívida externa bruta

174,0

185,8

223,4

557,3

569,4

507,3

418,6

320,0

305,0

290,0

275,0

(variação percentual anual)

Setor financeiro

Empréstimos

14,2

12,4

6,5

9,4

Residentes

8,4

10,2

2,6

3,1

Hipotecas

6,9

12,6

9,9

4,5

Outros

9,2

9,1

-1,0

2,4

Não residentes

21,0

14,7

10,5

15,2

Hipotecas

-1,6

-3,7

0,1

-1,8

Outros

21,5

16,0

9,7

15,4

Crédito interno a residentes (em % do PIB)

113,2

113,2

116,3

261,4

Crédito interno a não residentes (em % do PIB)

108,1

113,4

124,5

312,7

Crédito interno a famílias residentes (em % do PIB)

60,2

61,7

69,1

155,3

Crédito interno a famílias não residentes (em % do PIB)

4,6

4,9

5,2

11,1

Taxas de juro

Taxa de base da janela de desconto (nível, %, fim do período)

1,8

2,8

2,0

0,5

Taxa dos depósitos de poupança (nível, %, média)

0,0

0,0

0,1

0,0

MAIBOR a 3 meses (nível, %, fim do período)

1,3

2,4

2,4

0,4

Turismo

Entradas de turistas

5,4

9,8

10,1

-85,0

Receitas do jogo

19,0

14,0

-3,5

-79,2

Taxa de câmbio

MOP por USD, média do período

0,4

0,6

0,0

-1,0

Taxa de câmbio efetiva nominal (média, +=valorização)

-0,1

-2,5

3,0

-0,2

Taxa de câmbio efetiva real (média, +=valorização)

-0,9

-0,9

0,1

1,1

Por memória:

PIB nominal (em milhões de USD)

50.441

55.285

55.205

25.586

29.905

35.246

44.856

54.847

61.807

66.446

70.373

PIB per capita (em milhares de USD)

78

83

81

37

44

51

63

76

85

90

95

Fontes: CEIC; Haver Analytics; FMI, International Financial Statistics; autoridades nacionais; e cálculos do corpo técnico do FMI.

1/ Contribuição para o crescimento anual em pontos percentuais.

2/ O fundo de reserva orçamental foi criado em 1 de janeiro de 2012, mediante uma transferências das reservas cambiais.

Departamento de Comunicação do FMI
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