Diretoria Executiva do FMI conclui a consulta do Artigo IV de 2024 com o Brasil

11 de julho de 2024

Washington, DC: A Diretoria Executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) concluiu a consulta [1] com o Brasil nos termos do Artigo IV.

Nos últimos dois anos, a economia brasileira demonstrou notável resiliência, com a inflação recuando para o intervalo de tolerância da meta. O crescimento do PIB real em 2,9%, em 2023, foi consideravelmente superior ao projetado no início do ano, graças aos níveis recordes da colheita agrícola e da produção de hidrocarbonetos e à resiliência do setor de serviços. O consumo foi vigoroso, em meio a um mercado de trabalho forte e a um estímulo fiscal significativo. A atividade econômica no início do ano permaneceu robusta.

Projeta-se uma desaceleração do crescimento para 2,1% em 2024, refletindo uma política monetária ainda restritiva, a redução do déficit fiscal, a calamidade das enchentes no Rio Grande do Sul e a normalização da produção agrícola. A previsão é que o crescimento se fortaleça no médio prazo, chegando a 2,5%, uma revisão de 0,5 ponto percentual para cima desde a consulta do Artigo IV de 2023, impulsionado pelos ganhos de eficiência decorrentes da reforma dos impostos indiretos e do aumento da produção de hidrocarbonetos. O investimento em oportunidades de crescimento verde pode elevar ainda mais o potencial econômico. A inflação deve voltar para a meta de 3% no primeiro semestre de 2026.

Os riscos para as perspectivas de crescimento melhoraram desde a consulta de 2023, mas continuam a pender um pouco para baixo, enquanto a incerteza permanece. No fronte externo, os riscos de deterioração da conjuntura decorrem de possíveis falhas na calibragem da política monetária nas principais economias, volatilidade dos preços das commodities e instabilidade financeira mundial. No fronte interno, as rupturas nas cadeias de fornecimento decorrentes da calamidade das enchentes deste ano podem ser mais graves do que o previsto. A incerteza sobre as medidas fiscais pode reduzir a credibilidade das políticas, resultando em um aumento dos custos de financiamento e em um risco maior de desancoragem das expectativas de inflação. Já a probabilidade de os resultados superarem as projeções passa pelo consumo das famílias mais forte do que o esperado, pela implementação mais rápida do que o previsto de reformas que aumentam a produtividade e pelo investimento em oportunidades de crescimento verde. Um sistema financeiro sólido, reservas cambiais adequadas, a baixa dependência de endividamento em moeda estrangeira, as grandes disponibilidades de caixa do governo e a taxa de câmbio flexível continuam a respaldar a resiliência do Brasil.

 

Avaliação da Diretoria Executiva[2]

Os Diretores Executivos destacaram a notável resiliência da economia brasileira durante o processo de desinflação, assim como a previsão de convergência para um crescimento potencial mais forte no médio prazo. Também elogiaram as autoridades pelo progresso na promoção de sua ambiciosa agenda de crescimento sustentável e inclusivo. Olhando para o futuro, encorajaram as autoridades a perseverar no esforço de levar a inflação à meta, assegurar a sustentabilidade fiscal e  continuar perseguindo reformas estruturais para lidar com os desafios persistentes.

Os Diretores louvaram o compromisso das autoridades de continuar melhorando a situação fiscal com base em medidas dos lados da receita e da despesa. Expressaram satisfação com a reforma tributária, que deve impulsionar a produtividade, gerar empregos formais e melhorar a equidade tributária. Muitos Diretores incentivaram as autoridades a buscar um esforço fiscal sustentado e mais ambicioso que posicionasse a dívida pública em uma trajetória firmemente descendente e abrisse espaço para investimentos prioritários. A ampliação da base tributária, a racionalização de gastos tributários ineficientes, o combate à rigidez orçamentária e o aumento da eficiência dos programas sociais apoiariam esse esforço. Um quadro fiscal reforçado, com uma forte âncora fiscal de médio prazo, fortaleceria a credibilidade e a sustentabilidade.

Os Diretores destacaram positivamente os esforços decisivos das autoridades em reduzir a inflação. Aplaudiram o ritmo cuidadoso de acomodação da política monetária, compatível com o regime de metas de inflação, e enfatizaram que manter a flexibilidade do ritmo e da duração do ciclo de acomodação continuará sendo importante. Observaram que as políticas do Banco Central do Brasil (BCB) e o compromisso com a meta de inflação de 3% podem contribuir para uma diminuição ainda maior das expectativas de inflação. Nesse sentido, a manutenção da credibilidade dos arcabouços de política fiscal e monetária será importante. Os Diretores assinalaram que o regime de câmbio flexível e as reservas cambiais adequadas continuam a ser importantes amortecedores de choques. Notaram positivamente a implementação, em curso, do plano de zerar gradualmente o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente em algumas operações de câmbio, o que eliminaria a prática de câmbios múltiplos. 

Os Diretores concordaram que o sistema financeiro permanece resiliente, com riscos sistêmicos contidos e bancos altamente líquidos e adequadamente capitalizados. Aplaudiram as medidas para fortalecer a supervisão das instituições financeiras não bancárias, enfrentar o peso da dívida das famílias e diminuir os custos do crédito. Ressaltaram que uma gestão cuidadosa de um papel mais amplo dos bancos públicos é necessária para mitigar os possíveis riscos à situação fiscal, à transmissão da política monetária e à eficiência do mercado. Acolheram positivamente a agenda de inovação financeira das autoridades, que vem promovendo a inclusão financeira, a eficiência e a concorrência. Concordaram que dar flexibilidade ao BCB para cobrir as despesas operacionais apoiaria a continuidade do progresso na agenda de inovações tecnológicas.

 

Os Diretores acolheram o avanço na implementação do Plano de Transformação Ecológica do Brasil. Elogiaram as autoridades pelo compromisso de acabar com o desmatamento ilegal e receberam bem a nova estrutura para o mercado de carbono, bem como o progresso em conceber instrumentos para atrair financiamento verde de longo prazo, destacando, de maneira mais geral, o papel pioneiro do Brasil nessa área. É esperado que essas iniciativas facilitem a transição a uma economia de baixo carbono, encorajem investimento em projetos sustentáveis e aumentem o crescimento econômico. Os Diretores também ressaltaram que a manutenção dos esforços para promover a integração comercial, fortalecer as estruturas de combate à corrupção, à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo e facilitar a melhoria da qualificação profissional produziriam ganhos significativos no crescimento potencial. Os Diretores elogiaram o papel de liderança do Brasil durante a Presidência do G20.

Table 1. Brazil: Selected Economic Indicators 2022-29

I. Social and Demographic Indicators

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Area (thousands of sq. km.)

                          8,510

 

Health

 

 

 

 

 

 

 

Agricultural land (percent of land area)

30.2

 

Physicians per 1000 people (2023)

2.6

 

 

 

 

Hospital beds per 1000 people (2023) 1/

2.4

 

Population (2023)

 

 

Access to safe water (2022)

88.0

Total (millions)

216.3

 

 

 

 

 

 

 

 

Annual rate of growth (percent)

0.7

 

Education (2023)

 

 

 

 

Density (per sq. km.)

25.4

 

Adult illiteracy rate

 

5.4

 

Unemployment rate (Q1, 2024)

7.9

 

Net enrollment rates, percent in:

 

 

 

 

 

Primary education

99.4

 

Population characteristics (2022)

 

 

Secondary education

92.2

 

Life expectancy at birth (years)

75.5

 

 

 

 

 

 

 

Infant mortality (per thousand live births)

12.6

 

Poverty rate (in percent, 2022) 2/

31.6

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Income distribution (2022)

 

 

GDP, local currency (2023)

R$10,856 billion

 

Palma ratio 3/

3.6

 

GDP, dollars (2023)

US$2,174 billion

 

Gini coefficient (post taxes and transfers)

51.8

 

GDP per capita (2023)

US$10,050

 

Main export products: airplanes, metallurgical products, soybeans, automobiles, electronic products, iron ore, coffee, and oil.

 

II. Economic Indicators

 

 

 

 

 

 

Proj.

 

 

 

 

2022

2023

2024

2025

2026

2027

2028

2029

 

National accounts and prices

 

 

(Annual percentage change)

 

GDP at current prices

 

 

11.8

7.7

7.2

6.0

5.9

6.0

6.1

6.1

 

GDP at constant prices

 

 

3.0

2.9

2.1

2.4

2.4

2.4

2.5

2.5

 

   Consumption

 

 

3.7

2.8

2.0

2.2

2.1

2.1

2.3

2.3

 

   Investment (GFCF)

 

 

1.1

-3.0

0.8

0.9

1.3

1.4

1.6

1.7

 

Consumer prices (IPCA, average)

 

 

9.3

4.6

4.0

3.2

3.1

3.0

3.0

3.0

 

Consumer prices (IPCA, end of period)

 

5.8

4.6

3.7

3.2

3.0

3.0

3.0

3.0

 

GDP deflator

 

 

8.5

4.7

5.0

3.6

3.5

3.5

3.5

3.5

 

Gross domestic investment

 

 

(Percent of GDP)

 

   Private sector

 

 

14.3

12.4

12.2

11.9

11.7

11.6

11.5

11.4

 

   Public sector

 

 

3.7

3.7

3.7

3.8

3.8

3.8

3.8

3.8

 

Gross national saving

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   Private sector

 

 

19.2

21.9

20.5

20.3

19.3

18.8

18.3

17.8

 

   Public sector

 

 

-3.6

-7.2

-6.4

-6.3

-5.5

-5.1

-4.6

-4.2

 

Public sector finances

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Central government primary balance (national representation, incl. BCB)  4/

 

0.5

-2.4

-0.6

-0.7

-0.4

0.1

0.6

1.0

 

General government NLB primary balance 

 

1.3

-2.0

-0.7

-0.8

-0.4

0.1

0.6

1.0

 

General government NLB structural primary balance (in percent of potential GDP)

 

-0.7

-2.2

-1.5

-1.0

-0.5

0.1

0.6

1.0

 

General government NLB

 

 

-4.0

-7.6

-6.8

-6.8

-5.9

-5.5

-5.1

-4.7

 

Net public sector debt

 

 

56.1

60.9

61.4

65.9

68.3

70.0

71.1

71.8

 

General government gross debt, Authorities’ definition

 

71.7

74.4

77.1

80.5

82.1

83.4

84.0

84.3

 

General government gross debt

 

 

83.9

84.7

87.5

91.2

93.1

94.5

95.1

95.4

 

   Of which: Foreign currency linked

 

 

4.0

3.6

3.6

3.7

3.7

3.8

3.8

3.8

 

Money and credit

 

 

(Annual percentage change)

 

Base money 5/

 

 

16.6

20.4

7.2

6.0

5.9

6.0

6.1

6.1

 

Broad money 6/

 

 

10.6

15.5

7.3

5.9

6.0

6.0

6.1

6.1

 

Bank loans to the private sector

 

 

14.6

6.9

8.0

8.0

8.0

8.0

8.0

8.0

 

Balance of payments

 

 

(Billions of U.S. dollars, unless otherwise specified)

 

Trade balance

 

 

44.2

80.6

78.2

80.4

83.4

90.0

95.4

100.9

 

   Exports

 

 

340.3

344.4

345.6

350.4

357.1

369.3

380.1

391.7

 

   Imports

 

 

296.2

263.8

267.4

270.0

273.8

279.3

284.7

290.8

 

Current account

 

 

-48.3

-30.8

-40.0

-40.8

-42.9

-44.7

-45.5

-47.4

 

Capital account and financial account

 

 

47.0

29.7

40.0

40.8

42.9

44.7

45.5

47.4

 

   Foreign direct investment (net inflows)

 

41.3

36.0

37.2

38.7

40.3

41.8

43.4

45.1

 

Terms of trade (percentage change)

 

 

-7.1

2.4

-3.4

-2.0

-2.0

-1.0

-0.7

-0.8

 

Merchandise exports (in US$, annual percentage change)

 

19.8

1.2

0.3

1.4

1.9

3.4

2.9

3.0

 

Merchandise imports (in US$, annual percentage change)

 

19.6

-10.9

1.4

0.9

1.4

2.0

1.9

2.1

 

Total external debt (in percent of GDP)

 

34.9

33.7

32.6

32.3

31.0

29.7

28.6

27.5

 

Memorandum items:

 

 

(Percent, unless otherwise specified)

 

Output Gap

 

 

0.1

0.6

0.4

0.3

0.2

0.1

0.0

0.0

 

Current account (in percent of GDP)

 

 

-2.5

-1.4

-1.8

-1.7

-1.7

-1.7

-1.6

-1.6

 

Unemployment rate 7/

 

 

9.3

8.0

7.6

7.4

7.4

7.4

7.5

7.5

 

Gross official reserves (in US$ billions)

 

 

325

355

355

355

355

355

355

355

 

REER (annual average in percent; appreciation +)

 

12.1

4.6

...

...

...

...

...

...

 

Sources: Central Bank of Brazil, Ministry of Finance, IBGE, IPEA, and Fund staff estimates.

 

1/ Includes inpatient beds and complementary beds.

 

2/ Computed by IBGE using World Bank's threshold for upper-middle income countries (U$5.5/day).

 

3/ Share of income of the top 10% divided by share of income of the bottom 40%.

 

4/ Includes federal government, Central Bank, and the social security system (INSS). The 2023 primary balance excludes pandemic-related funds from PIS/PASEP, as per BCB definition.

 

5/ Currency issued, required deposits held at the Central Bank plus other Central Bank liabilities to other depository corporations.

 

6/ Currency outside depository corporations, transferable deposits, other deposits and securities other than shares.

 

7/ Unemployment rate for 2022 and 2023 shows the average of March, June, September, and December.

 

Departamento de Comunicação do FMI
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