(foto: Gabrielle CEZARD/SIPA/Newscom) (foto: Gabrielle CEZARD/SIPA/Newscom)

Das vacinas à recuperação em V na Europa

Um ano após o início da pandemia, a Europa encontra-se num outro ponto de inversão. Novas vagas de infeção estão a atingir o continente, exigindo novos confinamentos. Contudo, ao contrário do ano passado, agora estão disponíveis vacinas seguras e eficazes. Embora o ritmo da vacinação ainda seja lento, é possível contemplar um fim para a pandemia.

A recuperação económica na Europa ainda é desigual e hesitante, como reflexo das vagas periódicas de infeção e o ritmo das vacinações. Embora a produção industrial tenha voltado aos níveis anteriores à pandemia, o setor de serviços ainda está em contração.

Contudo, olhando para o futuro, projetamos que o crescimento económico europeu recupere 4,5% neste ano. Pressupondo que as vacinas se tornem amplamente disponíveis neste ano e ao longo do próximo, como ainda se espera, prevê-se um crescimento de 3,9% em 2022. Isso levará o produto da Europa de volta ao seu nível anterior à pandemia, mas não à trajetória prevista antes da Covid-19.

As mutações do vírus e a demora na vacinação são a principal incerteza neste momento. A maior preocupação no médio prazo são as sequelas económicas — um produto que nunca se recupere porque as pessoas que perderam o emprego durante a pandemia não consigam encontrar uma nova colocação. Isso pode ocorrer porque as lacunas encontradas na educação e na formação dos trabalhadores nunca são eliminadas, o investimento produtivo adiado continua na gaveta, ou os recursos permanecem em setores em declínio em vez de serem destinados para setores em expansão.

Neste contexto, a prioridade é aumentar a produção de vacinas. Isto é crucial não apenas para a Europa mas também para o mundo, pois a Europa é um centro de produção e exportação de vacinas. Investir neste esforço compensará. Naturalmente, uma produção mais célere de vacinas precisará ser associada a esforços nacionais para distribuí-las rapidamente, levando-as das fábricas até as pessoas.

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A solução

Ao mesmo tempo, as autoridades precisam continuar a apoiar a recuperação da economia. Quanto mais rápida for a recuperação, menos sequelas haverá para as pessoas e empresas. E a política orçamental precisa desempenhar um papel crescente nas economias onde a política monetária — com os juros no seu nível mais baixo — é menos eficaz para impulsionar o produto.

Mas é necessário mudar a natureza do apoio:

Uma injeção de reforço orçamental

Na mais recente atualização do relatório sobre as perspetivas económicas regionais para a Europa , analisamos o impacto de medidas orçamentais adicionais para apoiar essa mudança nas políticas. Estas medidas poderiam abranger mais transferências direcionadas às famílias necessitadas, subsídios à contratação para reintegrar mais rapidamente os desempregados, créditos fiscais temporários para o investimento a fim de antecipar o investimento privado, e mecanismos de apoio ao capital próprio para empresas viáveis que necessitem de capital. Não se trata de um pacote que impulsione os gastos de forma indiscriminada e permanente, mas sim de uma injeção temporária e bem direcionada tanto de oferta como de procura.

Constatamos que tal apoio adicional — fixado num nível de 3% do PIB ao longo de 2021–22 — poderia elevar o PIB em cerca de 2% até ao fim de 2022. No médio prazo, os robustos efeitos destas medidas sobre a oferta reduziriam em mais de metade o impacto das sequelas. Os custos seriam mínimos em comparação com os benefícios. Este pacote de medidas ofereceria também uma maior ajuda às famílias de baixos rendimentos e implicaria menos efeitos secundários do que se fossem concedidos mais estímulos monetários. Além disso, aproximaria a inflação da meta em muitos países e ajudaria a reconstruir o espaço da política monetária.

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Por último, o apoio orçamental também deveria ser redirecionado para acelerar a transformação da economia, inclusive por meio do investimento em infraestrutura, sobretudo em tecnologias verdes e digitais. A União Europeia abriu novos caminhos com a criação do plano Next Generation EU, que proporcionará apoio centralizado aos Estados membros — mais da metade na forma de subvenções. Este programa acelerará o crescimento e aumentará a produtividade, especialmente se for combinado com reformas estruturais que favoreçam o crescimento.

Em suma, com um trabalho árduo na produção e distribuição de vacinas, apoio contínuo às vidas e aos meios de subsistência, e políticas inovadoras para combater as sequelas económicas, a Europa pode ter uma “recuperação em V” mais justa, mais ecológica, mais inteligente e mais resiliente.

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Alfred Kammer é o Diretor do Departamento da Europa do Fundo Monetário Internacional desde agosto de 2020. Nessa função, supervisiona o trabalho do FMI com a Europa.

Anteriormente, foi Chefe do Gabinete da Diretora-Geral, assessorando a Diretora em questões estratégicas e operacionais e supervisionando as operações da equipe da Direção-Geral. Foi também Subdiretor do Departamento de Estratégia, Políticas e Avaliação, supervisionando o trabalho sobre a estratégia e a política de supervisão do FMI; Subdiretor do Departamento do Oriente Médio e Ásia Central, supervisionando a evolução econômica e as questões do setor financeiro da região; Diretor do Gabinete de Gestão da Assistência Técnica, assessorando a Direção-Geral nas operações de assistência técnica e supervisionando a captação de recursos e parcerias globais para capacitação; e Assessor do Subdiretor-Geral. Além disso, atuou como representante residente do FMI na Rússia. Desde que ingressou no FMI, trabalhou com países da África, Ásia, Europa e Oriente Médio, e numa ampla gama de questões estratégicas e de política econômica.