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Novo índice retrata a incerteza comercial no mundo inteiro

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A crescente incerteza que ronda o comércio internacional é um fator determinante do baixo crescimento mundial , segundo a edição atual do World Economic Outlook , o relatório do FMI sobre as perspectivas da economia mundial.

Mas como se mede a incerteza comercial? Como ela evoluiu ao longo do tempo? Sua variação está restrita a regiões ou países específicos? Um novo indicador revela uma escalada da incerteza em torno do comércio internacional, não apenas nos Estados Unidos e na China, onde as tensões comerciais são mais elevadas, mas também em muitos outros países.

Como o construímos

Nosso índice de incerteza do comércio mundial engloba 143 países a partir de 1996. Até onde sabemos, trata-se da primeira iniciativa para criar um índice de incerteza comercial para um grande conjunto de economias avançadas e em desenvolvimento. Os indicadores existentes se concentram nos Estados Unidos (o componente comercial do índice de incerteza da política econômica de Scott Baker, Nicholas Bloom e Steven Davis), na economia mundial como um todo (o índice da BlackRock) ou em um conjunto de 44 países (os índices de Sandile Hlatshwayo).

Nosso novo índice se baseia nos relatórios sobre países da Economist Intelligence Unit (EIU). Esses relatórios seguem um processo e estrutura padronizados, o que ajuda a mitigar as preocupações com a precisão, o viés ideológico e a uniformidade. Além disso, a cobertura dessa fonte única e altamente respeitável tem um foco temático específico: a evolução econômica e política. Esses fatores tornam nosso índice comparável entre os países.

Para construir o índice, calculamos o número de vezes em que a palavra “incerteza” é mencionada nos relatórios em proximidade a uma palavra relacionada com o comércio. Mais especificamente, para cada país e trimestre, procuramos nos relatórios da EIU as ocorrências do adjetivo “incerto” e suas variações, bem como de “incerteza” no singular e no plural, próximo das seguintes palavras e expressões: protecionismo, Acordo de Livre Comércio da América do Norte, tarifa, comércio, Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento e Organização Mundial do Comércio. Para tornar o índice comparável entre os países, ajustamos a contagem bruta de ocorrências em função do número total de palavras em cada relatório. Um aumento do índice indica uma elevação da incerteza comercial, e vice-versa.

Cresce a incerteza sobre o comércio mundial

Em todo o mundo, a incerteza em torno da política comercial está aumentando rapidamente, após permanecer baixa e estável por cerca de 20 anos.

O índice mostra que a incerteza aumentou a partir do terceiro trimestre de 2018, coincidindo com uma série de aumentos tarifários entre os Estados Unidos e a China que foram largamente divulgados. Em seguida, caiu no quarto trimestre de 2018, quando autoridades americanas e chinesas anunciaram um acordo para deter a escalada das tarifas, durante a reunião do G-20 em dezembro, em Buenos Aires. Disparou novamente no primeiro trimestre de 2019, após uma ampliação substancial das tarifas americanas sobre as importações chinesas a partir de 1º de março.

Também constatamos que os aumentos da incerteza prenunciam quedas significativas na produção. Com base em nossas estimativas, o aumento da incerteza comercial observado no primeiro trimestre de 2019 pode ser suficiente para reduzir o crescimento mundial em até 0,75 ponto percentual em 2019.

Aumento da incerteza comercial para além dos EUA e da China

A incerteza comercial tem crescido não apenas nos Estados Unidos e na China, mas também em muitos países em todo o mundo.

Níveis elevados de incerteza têm sido observados em parceiros comerciais importantes dos Estados Unidos, como o Canadá, o México, o Japão e grandes economias europeias, bem como em muitos outros países geograficamente próximos dos Estados Unidos e da China.

No entanto, o nível de incerteza comercial varia consideravelmente entre regiões e grupos de renda. O recente aumento do índice de incerteza foi mais pronunciado nas Américas, seguidas da Ásia e Pacífico e da Europa.

Em contrapartida, a incerteza comercial se mantém moderadamente baixa no Oriente Médio, Ásia Central e África. As economias avançadas apresentam os níveis mais acentuados, seguidas pelos mercados emergentes. Embora em alta, a incerteza comercial permanece, em média, em níveis reduzidos nas economias de baixa renda.

O índice de incerteza do comércio mundial (WTU, na sigla em inglês) faz parte de um projeto mais amplo para medir a incerteza em todo o mundo. O índice WTU é um dos componentes do índice de incerteza mundial (WUI, na sigla em inglês) disponível aqui . Mais detalhes metodológicos podem ser encontrados aqui .

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Hites Ahir é pesquisador sênior do Departamento de Estudos do FMI. Suas áreas de especialização abrangem os mercados imobiliários e a avaliação de prognósticos. Anteriormente, trabalhou no Banco Interamericano de Desenvolvimento, onde contribuiu para a análise das economias do Cone Sul. Fez seus estudos de pós-graduação em Economia na Universidade Johns Hopkins.

Nicholas (Nick) Bloom é professor de Economia na Universidade de Stanford e codiretor do Programa de Produtividade, Inovação e Empreendedorismo no National Bureau of Economic Research. Seus estudos se concentram nas práticas de gestão e na incerteza. Anteriormente, trabalhou no Tesouro do Reino Unido e na McKinsey & Company.

Seu trabalho já foi citado por uma série de órgãos de imprensa, como New York Times, Wall Street Journal e Financial Times. É membro da Academia Americana de Artes e Ciências e foi agraciado com diversos prêmios: Alfred Sloan Fellowship, National Science Foundation Career Award, Prêmio Bernacer e Medalha Frisch. Graduou-se em Cambridge, obteve seu mestrado em filosofia em Oxford e doutorou-se na UCL.

Davide Furceri é Subchefe de Divisão no Departamento de Estudos do FMI. É doutor em Economia pela Universidade de Illinois. Antes de ingressar no Fundo, foi economista na Divisão de Política Fiscal do Banco Central Europeu e na Divisão de Análise Macroeconômica do Departamento de Economia da OCDE. É autor de numerosos artigos nas principais revistas acadêmicas e voltadas para políticas, sobre uma vasta gama de tópicos na área da macroeconomia, finanças públicas, macroeconomia internacional e reformas estruturais.