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Apostando no progresso financeiro no Peru

Você se lembra do último pagamento que fez recentemente? Foi em dinheiro, no cartão de crédito ou, talvez, em um aplicativo no celular? Você consegue enviar dinheiro para diferentes cidades a um custo razoável? As respostas a essas perguntas podem indicar seu grau de acesso aos serviços financeiros. Sem um bom acesso a esses serviços, seria difícil para as pessoas satisfazer suas necessidades econômicas e sociais.

No Peru, o número de pessoas com acesso aos serviços financeiros aumentou nos últimos anos, e a titularidade de contas bancárias cresceu quase 50% desde 2014. Contudo, mais da metade da população ainda está excluída.

Para fechar essa brecha e tirar proveito dos avanços recentes, o governo poderia adotar políticas para alavancar ainda mais as fintech e, assim, ampliar a inclusão financeira no Peru. Com isso, mais peruanos teriam mais acesso a serviços financeiros — o que significa mais formas de economizar, obter crédito e pagar por bens e serviços.

Acesso concedido

Como já foi dito, a titularidade de contas bancárias no Peru cresceu de 20% em 2011 para 29% em 2014 e 43% em 2017. Nesse período, o número de número de contas rurais quase dobrou, de 23% em 2014 para 41% em 2017.

Chart 1

A expansão dos canais de prestação de serviços contribuiu para esse salto. Na última década, o número total de agências quadruplicou, ampliando o acesso a instituições financeiras.

As instituições bancárias e não bancárias aumentaram sua presença na maioria das regiões do Peru. Nos últimos anos, surgiram também novos canais de prestação de serviços, como o dinheiro móvel e as plataformas online.

De fato, boa parte dos avanços na inclusão financeira pode ser atribuída às políticas de apoio adotadas. Como signatário da Declaração Maia, o Peru faz parte de uma rede de autoridades comprometidas com a melhoria das políticas e normas sobre inclusão financeira. Em julho de 2015, o governo lançou a Estratégia Nacional de Inclusão Financeira , que fixou metas de 50% e 75% para a titularidade de contas até 2018 e 2021, respectivamente.

No levantamento Global Microscope Survey , o Peru é sistematicamente classificado como um dos países com um ambiente favorável que incentiva a inclusão financeira.

Um dos avanços regulatórios em apoio à inclusão financeira é a lei sobre o dinheiro eletrônico, aprovada em 2013, que possibilitou ao setor privado criar uma plataforma de dinheiro móvel totalmente interoperável e lançar um serviço de carteira móvel em 2016, a Billetera Móvil (BiM).

Desafios para a inclusão financeira

Apesar dos consideráveis avanços, ainda há muito a fazer. Por exemplo, a proporção de contas bancárias no Peru ainda é inferior à média da América Latina (54%) e à média mundial (69%).

A brecha entre os gêneros na titularidade de contas também aumentou, e a diferença entre a proporção de homens e de mulheres que têm conta bancária passou de 13% para 17% entre 2014 e 2017.

O grau de inclusão e profundidade financeira não está totalmente alinhado com os fundamentos econômicos internos. Um estudo do FMI revela um grande hiato negativo entre a inclusão financeira das famílias e esses fundamentos.

Além disso, o crédito privado, em torno de 40% do PIB, é um dos mais baixos da região e inferior ao nível esperado para um país com os níveis de renda e população do Peru.

Segundo o levantamento de 2017 da Global Findex , os entrevistados não bancarizados apontaram como principal motivo o custo elevado das contas.

Chart 2

É preciso mais acesso financeiro

No Peru, chegar até as populações em áreas geograficamente isoladas e pobres tem sido uma tarefa difícil, mas há uma oportunidade para as fintech oferecerem novas soluções para aumentar a inclusão financeira.

O apoio à tecnologia de pagamentos móveis pode ser útil, pois a parcela de adultos com uma conta móvel ainda é muito baixa, apesar da alta taxa de penetração da telefonia celular, mesmo nas áreas rurais (acima de 70%).

Chart 3

As iniciativas de dinheiro móvel, como a Billetera Móvil, são um passo nesse sentido, embora sua aceitação ainda fique abaixo das expectativas devido a dificuldades na implementação. Uma reforma do modelo operacional seria útil para impulsionar a adoção e o uso desse tipo de produto.

A digitalização dos pagamentos entre o governo e os cidadãos – de um lado, desembolsos de programas sociais e pagamentos de salários; do outro, arrecadação de impostos e taxas de licenciamento – também poderia ajudar a promover essas transações.

Encontrar o ponto de equilíbrio entre o apoio à inovação e a proteção do sistema financeiro é a chave para que as autoridades aproveitem ao máximo os dividendos digitais oferecidos pelas fintech.

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Yen Nian Mooi é economista no Departamento de Mercados Monetários e de Capitais do FMI. Seu trabalho no FMI e, anteriormente, no Banco Mundial, trata de vários temas macrofinanceiros, como estratégia da dívida, desenvolvimento dos mercados, vulnerabilidades financeiras e societárias, inclusão financeira e políticas macroprudenciais.