Um painel na Times Square, em Nova York, noticia o colapso do Lehman     Brothers em 15 de setembro de 2008. Na década seguinte, o setor financeiro     foi substancialmente fortalecido, mas a agenda de reformas permanece     incompleta (foto: Joshua Lott/Reuters/Newscom). Um painel na Times Square, em Nova York, noticia o colapso do Lehman     Brothers em 15 de setembro de 2008. Na década seguinte, o setor financeiro     foi substancialmente fortalecido, mas a agenda de reformas permanece     incompleta (foto: Joshua Lott/Reuters/Newscom).

Uma década após o Lehman, o sistema financeiro está mais seguro. Agora é preciso evitar a fadiga das reformas

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Uma década após o colapso do Lehman Brothers ter desencadeado a mais grave crise econômica desde a Grande Depressão, a regulação e a supervisão do setor financeiro foram substancialmente fortalecidas. Isso reduziu o risco de outra crise, com todos os seus problemas inerentes: desemprego em massa, execução de hipotecas, falências. Porém, surgiu um novo risco: a fadiga das reformas.

À medida que as lembranças da crise vão desvanecendo, os participantes dos mercados financeiros, as autoridades e os eleitores já não querem ouvir pedidos de novos regulamentos, e alguns até começam a exigir a revogação de algumas regras vigentes. Há boas razões para resistir a essa pressão. A agenda de reformas que visava evitar outra crise financeira ainda não foi totalmente implementada, e continuam a surgir novos riscos para a estabilidade financeira mundial. Para concluir essa agenda e fazer face a novos desafios, a cooperação internacional será vital, como mostra o capítulo 2 da mais recente edição do Global Financial Stability Report .

Um sistema financeiro mais seguro

É inegável que o sistema financeiro está mais seguro. Os bancos dispõem de um volume maior e melhor de reservas de capital para absorver perdas e estão agora mais bem preparados para converter ativos em dinheiro em momentos de estresse. Os países também usam testes de estresse para avaliar a saúde dos maiores bancos e criaram autoridades de supervisão para monitorar os riscos para o sistema financeiro. Mas ainda é preciso fazer mais. Em especial, deve ser concluída a implementação do chamado índice de alavancagem, que limita a capacidade dos bancos de crescerem excessivamente durante períodos de expansão, e os órgãos supervisores não devem permitir o enfraquecimento da supervisão dos grandes bancos cuja quebra pode representar uma ameaça para o sistema financeiro.

GFSR Chart 1

Daqui para frente, quais são as áreas que devem receber mais atenção das autoridades?

GFSR chart 2

São essas algumas das lacunas remanescentes na agenda regulatória posterior à crise. Mas também estão surgindo novos riscos, como a ameaça de ataques cibernéticos desestabilizadores a empresas financeiras e bolsas de valores. Além disso, as novas tecnologias financeiras, embora ofereçam benefícios como pagamentos eletrônicos mais rápidos e mais baratos, também constituem desafios. Os órgãos reguladores devem procurar incentivar as inovações benéficas e, ao mesmo tempo, assegurar a proteção contra os riscos que podem ampliar os choques no sistema financeiro. Aqui, mais uma vez, a cooperação internacional será vital, pois as tecnologias inovadoras se espalham rapidamente através das fronteiras.

Acima de tudo, os órgãos reguladores não podem se deixar levar pela complacência. Não é possível reduzir a zero a probabilidade de uma crise, nem devemos buscar esse objetivo. Após 10 anos de experiência na implementação das novas reformas, seria oportuno fazer um balanço do impacto dessas reformas sobre o conjunto da economia. Assim, os órgãos reguladores poderiam avaliar se os custos e ônus impostos pelas novas regras compensam os benefícios do aumento da segurança. É preciso ter em mente que o risco tende a aumentar durante os períodos de bonança e a migrar para novos e inesperados cantos do sistema financeiro. A batalha vencida ontem não é garantia de vitória amanhã.

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Adolfo Barajas é Economista Sênior na Divisão de Análise da Estabilidade Financeira Mundial do Departamento de Mercados Monetários e de Capitais do FMI, onde se ocupa principalmente de capítulos analíticos para o relatório semestral Global Financial Stability Report. Durante sua carreira no Fundo, trabalhou no Instituto para o Desenvolvimento das Capacidades, ministrando cursos sobre temas macroeconômicos e financeiros, e nos Departamentos do Hemisfério Ocidental e do Oriente Médio e Ásia Central. Nesses dois últimos departamentos, participou de missões relacionadas a programas e à supervisão, e contribuiu para a supervisão e análise multilaterais como autor de capítulos do relatório sobre as perspectivas econômicas regionais da região do Oriente Médio e Ásia Central. Doutorou-se em Economia pela Universidade de Stanford e já publicou artigos e estudos sobre temas como desenvolvimento financeiro e inclusão financeira, efeitos macroeconômicos das remessas, política cambial e vulnerabilidades dos balanços das empresas.

Claudio Raddatz Kiefer é Chefe da Divisão de Análise da Estabilidade Financeira Mundial do Departamento de Mercados Monetários e de Capitais do FMI. Anteriormente, foi Diretor de Política Financeira (2014-2017) e Chefe de Estudos Econômicos (2011-2014) do Banco Central do Chile e Economista Sênior do Grupo de Economia do Desenvolvimento do Banco Mundial (2008‑2011), onde também trabalhou como economista. Publicou numerosos estudos acadêmicos sobre questões macrofinanceiras. Formou-se e obteve seu mestrado na Universidade do Chile e doutorou-se em Economia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em 2003.

James P. Walsh é Subchefe do Departamento de Mercados Monetários e de Capitais do FMI e trabalha com questões relacionadas à política monetária e à estabilidade financeira, sobretudo na Ásia e nas Américas. Além disso, é Subchefe de Missão para o Programa de Avaliação do Setor Financeiro da China, executado em conjunto pelo FMI e Banco Mundial. Ocupou outros cargos no FMI e exerceu atividades de supervisão de países em diversos mercados emergentes em todas as regiões do mundo, em países como a China e a Índia. Seu trabalho analítico abrange os vínculos macrofinanceiros, a inflação, o financiamento dos investimentos em infraestrutura e os riscos financeiros sistêmicos, e foi um dos organizadores de um livro sobre os sistemas financeiros asiáticos. Trabalhou também na formulação de políticas do FMI, avaliando como a instituição supervisiona as economias em desenvolvimento. É doutor em Economia pela Universidade de Chicago e bacharel em Economia pela Universidade da Pensilvânia.